A Fonte dos Amantes é parte de uma intervenção maior, associada ao projeto para a Quadra San Cristóbal (estábulos) e a Casa Egerstrom, pensadas por Barragán para uma comunidade de cavaleiros. A fonte é um dos espaços de uso público do conjunto construído. Foi projetada especificamente como bebedouro para os animais.
“A profundidade do reservatório foi calculada para que quando o cavalo entre, a água chegue à sua barriga”, explicava Barragán.
O jóquei entra por um acesso lateral marcado pelo grande muro rosa, em seguida desce até o tanque sobre o cavalo, que logo está imerso na água. Toda esta situação produzida é acompanhada pelo som da água, que cai como uma cascata do aqueduto, perfeitamente apoiada sobre outro muro.
O uso da água é característico em sua obra e é influência da arquitetura colonial mexicana. Porém, além de poços e aquedutos de fazendas e conventos, Barragán as projeta como esculturas independentes da água, esculturas que podem manter seu atrativo visual e espacial.
A Quadra San Cristóbal, onde estão os estábulos, está implantada a 80 metros aproxidamente da fonte, mas estas formam um só projeto através do tratamento similar dos elementos e da relação programática. O jogo de tons rosados, que, paradoxalmente, ressalta a geometria abstrata dos muros e aparência da água, os vinculam, e os tornam um só espaço.
Todo o conjunto mostra-se, então, com um caráter fortemente expressivo. Como uma ação em cena que espera a entrada do jóquei, a abstração dos elementos contrasta com suas fortes cores, e a espessura dos muros dá profundidade às aberturas e pórticos, que mencionam os jardins vizinhos e fazem aparecer o céu.
O jogo compositivo entre muros cegos e perfurados gera uma experiência, e está é acentuado pelo som da água em movimento, o solo sem pavimentos e os cheiros da vegetação, também escolhida pelo arquiteto.
Como em várias de suas outras obras, os espaços criados por Luis Barragán parecem atemporais, em repouso. Esta obra cria um espaço exterior mais recluso, é um lugar de encontro, mas criado para a reflexão solitária e sempre aberto ao céu. A forma de habitar o espaço é definida por esse modo íntimo.